quarta-feira, 7 de junho de 2017

Modos & Estilos #019 - Rita Lee & Tutti Frutti - Fruto Proibido


Considerada a rainha do Rock nacional, Rita Lee tem uma carreira eclética passando por vários estilos e bons trabalhos, mas nada comparável a esta obra prima.
Rita Lee Jones Carvalho nasceu em São Paulo em 31 de dezembro de 1947. Começou a tocar bateria aos 15 anos. Entre 1966 e 1972 Rita Lee fez parte da maior banda brasileira de todos os tempos, os Mutantes, de quem foi co-fundadora junto com os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias. A Relação com Os Mutantes a levou a contrair matrimônio com Arnaldo Dias. Ainda com Os Mutantes gravou dois discos solo: Build Up em 1970 e Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida de 1972 que, na verdade trata-se de um disco dos Mutantes mas que foi lançado como solo de Rita por questões contratuais da gravadora. Com o fim de seu casamento com Arnaldo veio o fim do seu relacionamento com a banda.

Com a amiga Lucia Turnbull forma a dupla Cilibrinas do Éden que acaba sendo o embrião da banda Tutti Frutti que conta ainda com Luis Sérgio Carlini e Lee Marcucci, entre outros. A Parceria com a nova banda dura de 1973 até 1978 e o saldo são quatro álbuns a saber: Atrás do Porto Tem Uma Cidade de 1974, Fruto Proibido de 1975, Entradas e Bandeiras de 1976 e Babilônia de 1978. Destes, o álbum Fruto Proibido é considerado até hoje, uma obra prima do rock nacional e nós vamos saber porque, nesta postagem.

O Álbum

Fruto Proibido levou meses para ser composto em um trabalho conjunto da banda. Foi gravado no estúdio Eldorado, em São Paulo, em abril de 1975 e lançado em junho do mesmo ano. O álbum trás uma mistura de rock, pop, blues e hard rock colocados de maneira bem equilibrada e feito com muito profissionalismo que resultou em grandes sucessos. Produzido por Andy Mills e financiado e colocado no mercado pelo selo Som Livre, vendeu, na época, algo em torno de duzentas mil cópias, um marco para um disco de rock no Brasil. Participaram deste trabalho:
  • Rita Lee: voz, violão e sintetizador.
  • Luis Sérgio Carlini: guitarras, slide, violão, gaita e vocal.
  • Lee Marcucci: baixo e cowbell.
  • Franklin Paolillo: bateria e percussão.
  • Guilherme Bueno: piano e clavinete.
  • Rubens Nardo: vocais.
  • Gilberto Nardo: vocais.
  • Participação Especial de Manito: Sax em "Esse Tal de Roque Enrow", Flauta em "Pirataria" e Órgão Hammond em "O Toque".

As Músicas

Lado A

  1. "Dançar pra não Dançar" (Rita Lee) - Rock'n Roll básico com pegada firme com letra bem construída com um certo ar de psicodelia. O piano da entrada muito bem colocado. Backings na hora certa e a mudança  da segunda que dá espaço para a guitarra magnifica de Carlini, econômica mas no momento certo.
  2. "Agora Só Falta Você" (Luis Sérgio Carlini / Rita Lee) - Boa pegada com trabalho de guitarras, fala de atitude e mudança de vida, busca da liberdade e coisas do gênero. Bateria bem trabalhada.
  3. "Cartão Postal" (Paulo Coelho / Rita Lee) - Blues com todos os trejeitos do estilo. Blues em português é algo difícil de fazer mas a parceria com Paulo Coelho faz bonito. Baixo preciso dando todo o clima da canção. A guitarra limpa e comedida funciona como a cereja do bolo.
  4. "Fruto Proibido" (Rita Lee) - Rhythm and blues tradicional com harmônica e tudo. O Vocal de rita está bem jovial e entra bem no clima da canção que fala sobre as buscas por ultrapassar as fronteiras estabelecidas.
  5. "Esse Tal de Roque Enrow" (Paulo Coelho / Rita Lee) - Sucesso absoluto faz uma sátira de uma mãe conversando com seu psicanalista sobre a sua filha. Uma música que trata, de maneira bem humorada, sobre os conflitos de gerações. Mais uma vez a parceria com Paulo Coelho e até uma referência sutil a Raul Seixas. Sax mandando ver. A Guitarra está mais bem elaborada também.

Lado B

  1. "O Toque" (Paulo Coelho / Rita Lee) - Outra em parceria com Paulo Coelho com uma pegada mais psicodélica. Mais uma vez o baixo faz a diferença na base junto com um ótimo trabalho nos tambores. A segunda parte passa para um clima bem pinkfloydiano.
  2. "Pirataria" (Lee Marcucci / Rita Lee) - Glam bem construído com um leve funkeado. Na minha opinião é a mais fraca do álbum. Mas é uma boa canção.
  3. "Luz del Fuego" (Rita Lee)  - Excelente canção de empoderamento com uma abertura muito bem feita de guitarra e bateria. Vocais e arranjos muito bem colocados. Realmente uma excelente peça musical. 
  4. "Ovelha Negra" (Rita Lee) - O que falar desta canção. Trata-se de um hino de uma geração que é cantada até hoje, já recebeu várias versões. Uma balada rock que encanta logo a primeira audição. Tudo nesta música é perfeito. Letra, arranjos, instrumental e o solo magistral de Luiz Sérgio Carlini, talvez um dos mais belos do rock nacional. Encerra o álbum de maneira impecável.

Conclusão

Fruto Proibido é um disco obrigatório para quem gosta de boa música. Rita Lee está na sua melhor performance e embora seu disco seguinte, Entradas e Bandeiras, seja mais homogêneo, é mais Tutti Frutti do que Rita Lee e Fruto Proibido é mais Rita. É um daqueles discos que ficam para sempre em nossas lembranças. Perfeito.


sexta-feira, 2 de junho de 2017

Underground Cristão #001 - Mortification - Primitive Rhythm Machine

Quando eu me converti ao Evangelho de Jesus Cristo uma das coisas que não me agradou muito foi a qualidade da produção musical, mas esta má impressão inicial foi quebrada ao escutar este álbum. Foi como uma luz no fim do túnel.
A banda australiana Mortification, começou, oficialmente, em 1990, mas a sua formação se inicia em 1984 quando o baixista e vocalista Steve Rowe monta as bandas Rugged Cross (1984) e  Axiz (1985). Apesar da vida curta destas bandas, elas foram estímulo para que Steve não desistisse de seu projeto de banda. Em 1986 nascia a banda LightForce que grava seu primeiro álbum, Battlezone, em 1987 e o Mystical Thieves em 1988. Já em 1989 quando se preparavam para o terceiro trabalho, Steve assume a direção da banda que passa a se chamar Mortification.

Com Steve Rowe (baixo e vocal), Cameron Hall (guitarra) e Jayson Sherlok (bateria) a nova banda lança o álbum Break The Curse, ainda com o nome de LightForce. Este álbum foi remixado e relançado como Mortification, em 1994, com uma faixa bônus. Oficialmente o primeiro trabalho é: Motification, de 1991, com Michael Carlisle na guitarra.

A banda passou por diversas formações e tendências e atualmente o time é composto por Steve, o guitarrista Lincon Bowen e o baterista Andrew Esnouf. O álbum Primitive Rhythm Machine foi lançado em 1995 e é sobre ele que iremos falar nesta postagem.

Lançado em 1995 pelo selo Intense Records e Nuclear Blast no formato CD e remasterizado e relançado em 2008 pela Metal Mind Productions, produzido por Steve Rowe conta co o próprio Steve (baixo e vocal), George Ochoa (guitarras e teclados), Bill Rice (bateria), Jason Campbell (guitarra base) e Dave Kellogg (guitarra solo).

O álbum tem uma pegada excelente e em certos momentos lembra o Sepultura, dos bons tempos, mas sem perder a identidade característica do Mortification. Trata-se de um trabalho mais experimental, com vocal mais limpo e que mostra uma boa evolução musical da banda que deixa o death, um pouco de lado, e soa mais metal.

Vale a pena conferir.


.Ouvir no Spotfy...

sábado, 27 de maio de 2017

O Cristianismo que Sofre

Embora o ato de ser cristão signifique ser incompreendido, muitas vezes a incompreensão é fruto dos nossos erros.
Que existe uma cruzada contra o cristianismo em todo o planeta, não resta nenhuma dúvida. A cada dia que passa vemos os valores da mensagem da cruz sendo postos de lado, não apenas no comportamento das pessoas, de uma maneira geral, mas também de forma institucional. Se isso não bastasse, a cada dia, ser cristão é visto como algo retrógrado e tipico de pessoas sem cultura. Mas de onde vem isto?

Como cristão, que sou, creio que existe um mundo espiritual dividido entre o bem e o mal e que há uma batalha acontecendo e que estes mundos influenciam pessoas a seguirem os preceitos de um ou de outro. Mas também entendo que a nossa percepção do Evangelho de Jesus Cristo é muito equivocada e termina por alimentar estas divisões de classes.

Me parece que nós, os crentes em Cristo, não compreendemos qual seja verdadeira mensagem do Homem de Nazaré. Nossos sonhos egoístas, nossos projetos pessoais, nossas conquistas nos levam a crer em um Deus que nos quer sempre acima de tudo e todos. Esta crença equivocada nos tem transformado e pessoas presunçosas e arrogantes e, consequentemente, detestáveis.

O viver cristão, não é, como muitos pensam, uma coleção de conquistas mas sim um acúmulo de renuncias em favor do próximo. Bradamos que Deus é Amor, mas esquecemos de demonstrar o amor de Deus, em nossas vidas, por aqueles que carecem e não conhecem este amor. Isto é o viver cristão: renunciar a nós mesmos e dedicar-se aos próximos de nós que são justamente aqueles que se encontram ao alcance de nossas atitudes e ações.

Precisamos mudar, não em defesa do Deus Todo Poderoso, pois ele não precisa disso, mas em defesa da fé que anunciamos, pois é mais fácil e prático demonstrar nossa fé com atitudes do que com palavras lançadas ao vento. Que Deus tenha misericórdia de nós!

quarta-feira, 17 de maio de 2017

O Underground Cristão Vai Bem, Obrigado!

Enquanto no Mainstream cristão nacional quase não se aproveita nada a cena underground despeja toneladas de bandas para todos os gostos
Quando eu e Eduardo Teixeira, do Cristo Suburbano, fazíamos o Podcast do Esconderijo, em um determinado episódio ele me perguntou a diferença entre mainstream e underground e eu respondi que o mainstream é produto e underground é arte. Minha opinião sobre o assunto continua exatamente a mesma. E dentro do universo da música cristã é exatamente a mesma coisa. Isto acontece porque existe uma indústria musical que como todo e qualquer negócio, visa lucro. Esta busca pela viabilização e comercialização do produto acaba, muitas vezes, levando os profissionais do ramo a criação de produtos que possam ser facilmente aceitos, consumidos e descartados para que a próxima fornada não se perca. Neste processo, normalmente, a qualidade artística, poética e teológica fica em segundo plano. Enquanto isso, na cena underground, a certeza do baixo retorno financeiro acaba proporcionando aos criadores mais liberdade artística, mais comprometimento com a qualidade e uma maior preocupação com o conteúdo das mensagens.

Evidente que em ambos os lados existem exceções. Do lado mainstream, temos bons artistas produzindo boa música de excelente qualidade técnica e poética e com conteúdo teológico relevante, como é o caso da banda Resgate, assim como no meio underground também existe coisa que não se aproveita, mas no geral a regra permanece. E quando eu me refiro ao underground não estou me referindo apenas a galera do rock. Eu me refiro a todos os que estão produzindo arte, mas que correm por fora da grande mídia. Hoje é possível garimpar música cristã em todos os estilos que você possa imaginar e tem coisas realmente sensacionais.

Este artigo não tem por objetivo enumerar artistas mas servir de incentivo para que você comece a procurar conteúdo fora dos umbrais da mídia tradicional. Não vou apontar artistas específicos pois estaria apenas indicando aquilo que eu curto e que pode ser diferente do que você está buscando.

Onde Procurar

Uma boa pedida para quem curte um som mais voltado para o punk hardcore são os canais do Cristo Suburbano, mantidos pelo Eduardo Teixeira, da manda No More Zombies, vou dar o endereço do blog e de lá você encontra os outros canais. Tem também o Metal Cross onde você pode assistir clipes de várias bandas cristãs que fazem um som da hora. Tem o canal da Gabi Rox onde existem várias dicas de bandas nacionais e internacionais do underground cristão. Outra cena bastante forte é a do RAP cristão. Vou indicar dois; o blog Hip-Hop Gospel e o site Portal Rap onde você vai encontrar bastante informação sobre o assunto. Estes são alguns canais mas existe muito mais. E se você conhece algum bem legal, coloque o link ai nos comentários para gente divulgar. Grande abraço.

Links:

quinta-feira, 11 de maio de 2017

O ideal e o real na rede social

As postagens revelam a verdadeira face por trás das fotos tratadas do Facebook 
Cada perfil na maior rede social do nosso mundinho revela dois tipos de pessoa. Uma é a da foto da página pessoal e dos álbuns de fotos e a outra é a das postagens e curtidas. Se fossemos traçar um perfil dos usuários da rede, baseados nas imagens, chegaríamos á uma rápida e equivocada conclusão de que todo mundo é bonito, rico e come bem. Lógico que estou me referindo a nossa brava gente brasileira. Mas se formos traçar este mesmo perfil baseados em postagens, curtidas e compartilhamentos, chegamos a conclusão de que a maioria destes mesmos usuários, não tem valores bem definidos, são preconceituosos e extremamente egoístas, só pra começar.

As redes sociais, desde os tempos do finado Orkut, vem promovendo uma maior interação entre os seres humanos. Pessoas que não se viam e não se falavam há anos se redescobrem por elas. Mas por trás destes fenômenos benéficos existe uma dura realidade imposta pelo establishment, que leva há uma espécie de ostentação digital. Fotos tratadas, corpos perfeitos, lugares maravilhosos, comidas exóticas e festas, muitas festas. Sabemos que a maioria esmagadora dos mortais, como eu e você, não vive um mundo de glamour e holofotes. As dificuldades da vida diária, estão aí e atingem todos sem qualquer traço de preconceito. Então o que está acontecendo?

A Ditadura da fama, beleza e inclusão, transformou  muita gente em refém do sistema. As pessoas tem uma necessidade absurda de: serem aceitas, elogiadas, comentadas e de passar uma imagem de vencedores, sempre. Eu vejo este tipo de comportamento como uma espécie de falta de perspectiva e de projeto de vida. Converso com muitos jovens e sempre escuto a mesma coisa: "Quero ter grana, muita grana!". Esta redução de valores confinada a uma imagem, roupas de marca e lugares da moda, revela uma alma solitária que encontra no ego(ismo) a única saída. Mas por trás da maquiagem e dos cenários hollywoodianos, existe um ser humano com medos, desejos e pensamentos próprios. Mas como descobrir o SER por trás do PARECER? É aí que entra o conteúdo.

Por exemplo: estava vendo o perfil de alguém que conheço a realidade, para fazer uma comparação. A primeira vista parece ser uma pessoa altamente religiosa, muito bem sucedida, intelectual e que gasta seu muito tempo e dinheiro ajudando os desfavorecidos e pregando o evangelho, mas se continuarmos olhando começamos a perceber que a realidade da pessoa não é tudo aquilo e que na verdade é uma pessoa fútil, inconstante e acostumada a viver as custas dos outros. Num outro perfil, a pessoa parece um modelo que só frequenta lugares top. Mas aos pucos o que se vê é alguém vulgar, com pouquíssima bagagem cultural e com valores mal definidos ainda que queira dizer que é cristã.

São muitos exemplos e não vou ficar aqui relatando um por um, mas o que tenho visto é algo do tipo: Posta uma mensagem sobre o amor de Deus e curte o linchamento de alguém que cometeu um crime. Tira foto com livro na mão mas sequer sabe escrever decentemente. Coisas deste tipo! É uma geração que sente muita dificuldade em se posicionar e por isso vai sempre com a massa, para não parecer uma carta fora do baralho. Finge ser o que não é e ter o que não possui. É como se fosse uma prisão sem grades e sem correntes visíveis. Pense nisso!

Não sou psicólogo, mas mesmo sem um conhecimento profundo sobre a psique do ser humano é fácil identificar estas anomalias. Poderíamos ir além, analisando os grupos que a pessoa participa, as páginas que acompanha, mas vou ficar por aqui. Grande abraço!

domingo, 7 de maio de 2017

Desejamos ir lá, só que não

Existe uma canção na Harpa Cristã que a letra fala: Desejamos ir lá... Mas será que realmente desejamos?
Na carta do apóstolo Paulo aos Filipenses, no capítulo 1, versículos 23 e 24 ele diz: "Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu permaneça no corpo". Paulo sentia um profundo desejo de partir logo desta vida para estar com Cristo por toda a eternidade. No entanto, por amor das almas ele desejava continuar aqui para seguir fazendo a obra do Senhor. Mas e nós? O que nos impede de partir desta vida? Que desejos nos impulsionam a desejar continuar neste mundo?

Outro dia, eu conversava com uma pessoa sobre o Reino de Deus e ela me falou que ainda é muito jovem para morrer e que precisava aproveitar a vida. E percebo na maioria das pessoas um desejo muito forte pelos prazeres que o mundo oferece. Uns querem construir suas carreiras profissionais, outros querem possuir bens materiais, outros querem fama e fortuna, outros só a fama e há até aqueles que não querem nada disso mas almejam um mundo melhor, mais justo. Mas em todos estes casos sempre existe um desejo de permanecer aqui. É aquela velha máxima: todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer. Mas não há outra maneira de ir pro céu!

A Bíblia Sagrada não diz muita coisa sobre como é o céu mas deixa bem claro o que ele não é. De acordo com as Sagradas Escrituras, lá não existe tristeza, doenças, inveja, despesas, e nem toda sorte de males e empecilhos que são comuns neste nosso mundo. Mas mesmo sabendo que lá é um lugar melhor (muito melhor) do que este, não queremos partir desta vida. Não estou me referindo àqueles que não creem em Deus, pelo contrário, me refiro aos que professam a fé cristã e que propagam que o céu é um lugar melhor. Só existem dois motivos para um crente em Jesus não desejar partir: ou é por conta de um profundo amor pelo próximo ou apenas um desejo egoísta de quem ainda não compreendeu, verdadeiramente, quem é Deus e a importância do sacrifício feito por Jesus, na cruz do calvário.

Se aquilo que nos move em direção a este mundo é apenas o desejo de realizarmos nossos projetos pessoais e materiais, então devemos rever a nossa fé pois estamos sendo motivados erroneamente. Pense nisso!

terça-feira, 2 de maio de 2017

Modos & Estilos #018 - Secos & Molhados - Secos & Molhados II

Um álbum a frente de seu tempo e que ainda soa surpreendente!
A banda Secos & Molhados criada, em 1970, pelo cantor e compositor português, radicado no Brasil, João Ricardo, teve muitas formações. Mas nos anos de 1973 e 1974 o grupo teve a formação considerada clássica composta pelo próprio João Ricardo (vocais, violão e harmônica), Gérson Conrad (vocais e violão) e Ney Matogrosso (vocais).  Com este time gravaram os dois primeiros álbuns da banda que são verdadeiras obras primas da música brasileira: Secos & Molhados I (1973) e Secos & Molhados II (1974).

O impacto causado pela banda foi arrebatador. Numa época difícil para o país, os Secos & Molhados ousaram em tudo. Na musicalidade inovadora, nas letras, no visual extravagante, na mistura de sons e ritmos com elementos do rock, jazz, progressivo, folclore português, MPB e muito mais. Apesar do tempo, o trabalho realizado a esta época,continua atual e ainda surpreende os ouvidos mais atentos.

Mesmo não tendo obtido o mesmo sucesso e volume de vendas do primeiro disco, Secos & Molhados II é, na minha opinião, não apenas o melhor trabalho do grupo, mas um dos melhores álbuns produzidos no Brasil e pode facilmente figurar entre as grandes coleções da música mundial. Mas nem tudo são flores, o álbum originalmente foi prensado em vinil não virgem o que prejudica um pouco a qualidade sonora e merece uma remasterização. No entanto este detalhe não o deixa menor e menos importante. A capa simples, minimalista e intrigante já dá uma mostra do seu conteúdo.

Menos rock que seu antecessor, as músicas do disco passeiam por vários estilos e criam um clima de delírio e introspecção com arranjos muito bem construídos e uma performance vocal primorosa de Ney Matogrosso. Nas letras temos um desfile de autores como:  Julio Cortázar, João Apolinário, Fernando Pessoa e Oswald de Andrade além do próprio João Ricardo, Paulinho Mendonça e uma parceria com a cantora, compositora e multi-instrumentista brasileira, Luhli, na faixa Toada & Rock & Mambo & Tango & Etc.

Além do Trio, participam deste álbum os músicos: Norival D'Angelo (bateria, timbales e percussão), Sérgio Rosadas (flauta transversal e flauta de bambu), John Flavin (guitarra elétrica e violão de 12 cordas), Willi Verdaguer (contrabaixo elétrico), Emilio Carrera (piano, órgão e acordeão), Triana Romero (castanholas) e Jorge Omar (violões e viola). Destaque para o baixista Willi que dá um show de técnica e musicalidade. Mas vamos às músicas:

01 - Tercer Mundo (João Ricardo/Julio Cortázar) - Música no estilo flamenco, com castanhola e tudo. Num clima bem revolucionárioe um belíssomo de trabalho de violões.
02 - Flores Astrais (João Ricardo/João Apolinário) - Foi o hit deste álbum, tocado e retocado em tudo que é lugar. Clima psicodélioco, meio prog, meio pop. Excelente.
03 - Não: Não Digas Nada (João Ricardo/Fernando Pessoa) - Mais uma acústica. Num belíssimo arranjo sobre um poema de Fernando Pessoa. 
04 - Medo Mulato (João Ricardo/Paulinho Mendonça) - Num clima de suspense  a letra fala dos medos que rondam as mentes alimentadas pelas histórias de fantasmas. Tem um clima meio circense e um arranjo de flauta muito bom.
05 - Oh! Mulher Infiel (João Ricardo) - O Violão passeando em um acorde trás a melodia que denota intimidade. É o próprio João Ricardo que canta. Dá a sensação de uma pausa.
06 - Voo (João Ricardo/João Apolinário) - Com um baixo magistral a música tem uma levada meio prog que passa bem a sensação de algo voando. Rock de primeira meio folk sobre o poema de João Apolinário.
07 - Angústia (João Ricardo/João Apolinário) - Mais uma que o baixo de Willi simplesmente arrasa. Rock setentista com uma intervenção de guitarra com sonoridade bem psicodélica.
08 - O Hierofante (João Ricardo/Oswald de Andrade) - Rock de alta qualidade sobre um texto de Oswald de Andrade deixando claro que, se Ney era a voz da banda, João Ricardo era o cérebro.
09 - Caixinha de Música do João - (João Ricardo) - Faixa curta e melancólica que funciona como uma transposição para a a última parte do álbum.
10 - O Doce e o Amargo (João Ricardo/P. Mendonça) - Mais um trabalho de cordas bem cunstruido que nos levam a refletir.
11 - Preto Velho (João Ricardo) - Tema contemplativo com uma flauta lindíssima e o vocal de João ricardo num poema introspectivo que olha direto para a alma.
12 - Delírio (Gérson Conrad/P. Mendonça) - Blues arrasa quarteirão de arrepiar. Sempre falo como é difícil fazer blues em portugues, tem que ter muito talento e os caras esbanjam.
13 - Toada & Rock & Mambo & Tango & Etc (João Ricardo/Luhli) - Rock Psicodélico com todas as nuances do estilo, com um vocal sussurrado mostrando o quanto os caras poderiam ter produzido juntos.

Conclusão

Secos & Molhados II é um disco formidável que não pode faltar em nenhuma coleção. Uma obra musical a frente de seu tempo. O talento musical de João Ricardo está a flor da pele, a voz de Ney está impecável. Enfim, uma produção nacional que nos dá orgulho de ser brasileiro.