quarta-feira, 8 de abril de 2015

O que é underground #02 - Não é Rock!

Tenho percebido, através de conversas e leitura de comentários, que uma grande parte das pessoas associa o universo underground com a cultura do rock. Embora o rock em suas inúmeras vertentes se manifeste, de muitas formas, num conceito mais underground, devemos compreender que nem toda música rock é underground e nem toda música underground é rock. Para isso, é fundamental entendermos o que é underground. Para isso eu recomendo outro artigo deste blog: O Que é Underground #01.

Como você pôde ler, nosso conceito de underground é de algo mais profundo em qualidade, informação e relevância para o meio. Partindo deste pressuposto entendemos que o universo da cultura underground é bem mais abrangente e não se restringe a um estilo musical. No Brasil associamos a produção underground à produção marginal pois é fato que a mídia aberta não abre espaço para o artista independente, deixando trabalhos sensacionais longe do alcance das massas. Não quero acreditar que isso seja intencional mas não posso negar que não há interesse em levar ao grande público conhecimento que gere reflexão e questionamento. Ou seja: deixe a massa com sua novelinha, sua dupla sertaneja e com o noticiário mascarado da TV aberta.

Cena do Filme "A Clockwork Orange" de Stanley Kubrick
Neste caso, ser underground é uma forma de reagir a estas imposições da grande mídia produzindo e consumindo material alternativo que informe e revele aquilo que realmente importa. Um bom exemplo disso é a cultura do fanzine ou simplesmente zine.

É pra ler, ou pra comer?

Fanzines são uma alternativa à imprensa oficial. Basicamente o termo deriva-se de duas palavras fan e zine que por sua vez são abreviações de fanatical e magazine, ou seja: Revista de Fan (Apaixonado). Os primeiros fanzines surgiram na década de 30 nos EUA e eram basicamente dedicados a Ficção Científica. Mais tarde este tipo de publicação foi ganhando força e abrangendo outras áreas como, música, arte, cinema, jornalismo, quadrinhos, moda e atividades do cotidiano, chegando a ter fanzines que falavam sobre outros fanzines como é o caso Factsheet Five (foto).

Factsheet Five - Fanzine sobre Fanzines
Muitos fanzineiros com o tempo acabaram sendo contratados por revistas profissionais mas outros mantiveram-se independentes e mesmo assim conquistaram um grande público e ainda estão vivos, como é o caso do fanzine punk, Maximumrocknroll (foto) lançado em 1977 e ainda na ativa (até esta postagem estava na edição #384).

Primeira edição do Maximumrocknroll
Fanzines são produzidos para nichos específicos, de forma alternativa e muitas vezes artesanal, podem ser vendidos doados ou trocados. 

No Brasil

O primeiro fanzine produzido em terras tupiniquins, que se tem notícia, chamava-se FICÇÃO (foto) e foi publicado em 12 de outubro de 1965 pelo piracicabano Edson Rontani

Primeiro Fanzine Brasileiro - 1965
Nos anos 80, tivemos uma proliferação de fanzines. Era a melhor maneira de circular informação alternativa sobre os mais variados assuntos. O movimento punk, na época, abraçou de tal maneira a mídia que este formato de publicação, por um bom tempo, ficou associado a cena. Na região sul tivemos muitas publicações como o curitibano Inquérito (foto) e o gaúcho Leve Desespero (foto).



Para uma informação mais detalhada do assunto, indico o documentário Fanzineiros do Século Passado, disponível no Youtube e postado logo abaixo:

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Se no início do novo milênio, esta mídia parecia estar morrendo com o advento da internet, nos últimos anos, a partir de 2011 os zines vem ganhando força novamente, merecendo até mesmo destaque em jornais de grande circulação como é o caso da Folha de São Paulo em matéria publicada em 4 de maio de 2014. Leia aqui, inclusive com eventos como a Ugra Zine Fest que em 2013 chegou a sua terceira edição.

Fanzines Cristãos?


Conclusão: os fanzines estão mais vivos do que nunca. E com as facilidades tecnológicas estão cada vez melhores, pode ser E-pub, PDF, ou de papel. O importante é ter um alternativa à imprensa oficial que só quer nos enganar.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

O Deus Incômodo!

Após quase duas décadas de convivência cristã, percebo que existem basicamente dois evangelhos sendo pregados nas instituições religiosas de vertente supostamente cristã. Um é humano e outro é bíblico. Evidente que olhando assim a grosso modo, devemos nos ater, deter, compreender e viver o evangelho bíblico, uma vez que temos nas sagradas escrituras a expressa vontade de Deus para nossas vidas. Mas é exatamente neste ponto que reside a maior dificuldade para nós.

Examinar as Escrituras
Ao lermos as Sagradas Escrituras, buscando o correto entendimento, começamos a perceber o quanto somos falhos e a imensa quantidade de mudanças necessárias em nossas vidas. A Palavra de Deus nos incomoda, pois ela revela nossa miséria e ilumina nossos caminhos tortos. É uma palavra que nos cobra atitudes que na maioria das vezes vem contra os nossos desejos, sonhos e anseios. Ela nos tira do centro e coloca a pessoa de Jesus Cristo como principal objetivo de nossas vidas. Nos desnuda diante da verdade e como um espelho que espelha a alma nos mostra como realmente somos: egoístas, imaturos e escravos de desejos plantados em nós por um sistema que só quer o nosso trágico fim.

Por outro lado, se aceitarmos este confronto, compreendermos que precisamos mudar nossa conduta e se agirmos em prol das transformações necessárias, percebemos que esta mesma palavra que parece tão cruel é a mesma que nos liberta das amarras do conformismo, das prisões do legalismo, do peso da depravação humana! É nesse momento, em que rompem-se os grilhões, que saímos da cegueira  e começamos a enxergar o mundo de ilusão que nos cercava e podemos vislumbrar, ainda que de lampejo, o Reino do qual somos herdeiros e não percebíamos.

Este é o evangelho que temos que viver, um evangelho que não é fácil pois nos tira do centro das atenções, um evangelho que não busca bençãos meramente humanas, que não promove espetáculos, que não ignora a miséria humana, que não busca a auto-promoção, que não está sob os holofotes, que não sobe nos palcos, mas que liberta da mentira, do engano, da ilusão. Um evangelho que não é baseado em grandes pregadores, cantores ou estrelas gospel, mas que se volta e se rende ao único e soberano Deus. É este o evangelho que precisamos. O evangelho de Jesus Cristo!

Pensei em falar sobre o outro evangelho. Aquele da mentira, do engano, do tapinha nas costas, da prosperidade infinita. Até pensei. Mas, não preciso dele!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Música Cristã em Fases

Embora eu tenha apenas 19 anos de vida cristã, meu contato com a música de raiz evangélica é bem anterior a minha conversão, em 1996. Há algum tempo que venho acompanhando a cena cristã nacional e me permito fazer uma análise do desenvolvimento desta "arte" a partir de observações pessoais que podem não refletir a opinião da maioria mas que considero interessante compartilhar uma vez que existe uma lógica coerente no meu raciocínio. Devo salientar que estas observações tem como contraponto comparativo uma cultura musical forjada desde a infância com base na MPB, Música Erudita e o universo da música rock em suas mais variadas vertentes. Dito isto vamos lá!

Para uma melhor compreensão, proponho uma divisão da história da música cristã evangélica em quatro fases a saber: 
  • Primórdios - Anterior a década de 50
  • Primeiro Amor - Da década de 50 a década de 80
  • Profissionalização - A partir da década de 80
  • Sofisticação - A partir do novo milênio

Primórdios

De acordo com o colecionador e pesquisador Salvador de Souza, em seu livro História da Música Evangélica no Brasil, o primeiro registro fonográfico de uma música evangélica por essas terras foi realizado em São Paulo, por José Celestino de Aguiar e pelo Rev. Belarmino Ferraz, no ano de 1901, em um disco de cera. Existem  ainda registros da Igreja Evangélica Fluminense em 1916, 1936, 1944, 45 e 46 em vinil de 78 rpm. Existem outros registros mas é tudo muito rudimentar.

Primeiro Amor

Esta segunda fase, que eu optei por chamar de primeiro amor, começa na década de 50 e se caracteriza por canções apaixonadas. São mensagens de salvação e conversão mas a qualidade técnica é bastante fraca. Lembro-me das produções que eu escutava na casa dos meus parentes nos anos 70. Aquela guitarra estaladinha, orgão Saema e bateria só para manter o ritmo. Mas é o início de uma tomada mais comercial. Até onde se sabe, o primeiro LP evangélico foi gravado em 1955 por Luiz de Carvalho.


Após isso começa uma explosão de cantores, ritmos e tem início a formação de um mercado de música cristã com o surgimento de grandes nomes do meio. Nos anos 60 vemos a introdução de ritmos populares e de instrumentos antes demonizados. No final da década de 60 a Missão Vencedores Por Cristo inicia uma revolução no evangelismo com base na música lançando em 1968 seu primeiro trabalho.

Profissionalização

A década de 80 marca o início de uma preocupação cada vez maior com a profissionalização e a qualidade técnica das gravações. Também é na década de 80 que o termo gospel começa ganhar força através da gravadora Gospel Records, da igreja Renascer em Cristo. Trata-se de uma década que marca o boom da Música Cristã Brasileira.

Se por um lado a música cristã ganha terreno por outro a mercantilização começa a produzir obras de conteúdo teológico duvidoso. Outro ponto negativo é que a música cristã começou a seguir tendências da moda. Esta corrida pela parada de sucessos acabou por criar uma indústria de produção em massa.

Houve também uma importação cada vez maior de modelos estrangeiros, como Hillsong, ou seja: a música ganhou em produtividade e técnica mas perdeu em qualidade musical, cultural e em conteúdo.

Sofisticação

O início do novo milênio trouxe consigo uma nova fase na música cristã. Eu costumo chamar de fase da sofisticação, ou a fase da arte. Se de um lado temos uma industria muito forte baseada em lucros produzindo muita coisa de qualidade duvidosa, do outro lado temos uma cena cristã independente e mais underground crescendo e se fortalecendo. A música cristã brasileira começa a produzir muita coisa boa e inovadora, que foge aos padrões estabelecidos pela industria fonográfica gospel. Um bom exemplo disso é o CD Reencontro (foto), do artista Thiago Holanda. Jazz da melhor qualidade com participações pra lá de especiais.

Capa do Álbum Reencontro de Thiago Holanda
E não é só isso, muitas bandas e artistas em diversos segmentos, tem surgido neste novo cenário da música cristã ou feita por cristãos com um diferencial criativo nunca visto antes. Do Pop ao Rock, do Jazz a MPB passando pela Bossa Nova, Reggae e música experimental como é o caso dos cariocas do Ruah Jah com o fantástico Rádio Jah (foto).

Capa do álbum Radio Jah Vol.1 do Ruah Jah
No lado do mainstream temos uma nova safra de artistas como: Marcela Taís, Lorena Chaves, Fábio Sampaio e artistas que se renovaram e melhoraram muito, como é o caso da banda Resgate, entre outros. Já a cena underground vem num crescendo tanto na área do louvor com artistas independentes como: Crombie, Marco Telles como na área mais rock com cenas em todo Brasil, como é o caso do selo Cristo Suburbano, criado para facilitar a distribuição de material de bandas independentes.

Aliás, para quem acha que a cena underground é mais uma brincadeira de moleques, cito dois casos. A banda paulista Antidemon que atualmente é contratada da Rowe Productions, gravadora do renomado Mortification e a Living Fire que faz parte do selo californiano Thumper Punk Records.

Capa do Álbum da Living Fire
Lógico que este artigo não esgota, de forma alguma, o assunto, mas nos dá um alívio de saber que mesmo em meio a tanto lixo "gospel" existe uma música cristã honesta e de qualidade sendo feita por aí.





segunda-feira, 23 de março de 2015

Home Studio #05 - Assassinos

Seguindo na saga de montar um Home Studio com quase nenhuma grana apresentamos mais uma produção totalmente feita em casa, com recursos mínimos. Desta vez é a música Assassinos da banda Holy Factor que é uma das músicas que fará parte do álbum da banda. Vamos a música:



Ficha Técnica

Artista - Holy Factor
Autoria - Luis Vulcanis
Músicos - Luis Vulcanis: vocal, baixo e bateria. David Vulcanis: guitarras.
Data de Gravação - Março de 2015.
Software de Gravação - Reaper e Hydrogen
Equipamentos: Microfone Shure 8700, Amp Moug 30w, Guitarra Phoenix Strato, Baixo Tagima B4, Pelaleira Zoom G1, Adaptador P10-P2, Notebook Sansung RV-411.

As Gravações

Devido ao fato de estarmos sem baterista na época da gravação optei pela utilização de um simulador de bateria. Gosto muito do Hydrogen que é um aplicativo Open Source, fácil de usar e bastante versátil. Ele simula inclusive dinâmica e falhas. Montei toda a linha da bateria. O próximo passo foi colocar o baixo. Gravei o baixo em linha ligado direto ao PC e utilizei apenas plugins de equalização e compressão. Depois coloquei um segundo baixo fazendo apenas as tônicas com um lowpass bem agressivo apenas para preencher espaços. Gravei também uma trilha com um vocal provisório para guiar o guitarrista.

Para a gravação das guitarras utilizamos um cubo de estudo para baixo da Moug com o microfone colocado bem próximo ao alto falante (foto).

Moug BS-30 + Shure 8700
Na gravação da guitarra utilizei um limitador já que o som estava estourando muito e jogamos uma equalização por cima.

Para a gravação da voz encontrei uma solução extremamente barata para evitar as reflexões das paredes e móveis, já que gravei em um quarto sem nenhum tratamento acústico. Coloquei o microfone dentro de uma caixa de papelão forrada com espuma de colchão (foto) e o resultado foi surpreendente.

Tecnologia de ponta na gravação de voz!
Na captação utilizei compressão e equalização e depois apliquei um reverb para ambiência. Gostei do resultado final. Depois de tudo gravado foi só mixar, acrescentar mais um efeito aqui ou ali. Fico imaginando o que vamos conseguir quando puder comprar uma interface de áudio profissional!

segunda-feira, 9 de março de 2015

Saindo da Caixa

Uma das coisas que eu tenho observado nas bandas e músicos da minha região, que estão mais próximos de mim, é a falta de informação musical relevante. Mas o que significa isto?


Não se trata de talento ou capacidade técnica. Conheço dezenas de músicos talentosos com capacidade técnica até mesmo acima da média e condições de estar no circuito musical nacional ou até mesmo participando da cena externa em pé de igualdade com nomes fortes do meio. Mas então, porque estes músicos e bandas não decolam? Creio que existem vários fatores e não tenho nenhuma pretensão de esgotar o assunto, mas de levantar alguns pontos que consigo identificar. Então vamos lá.

Falta de um objetivo


Grande parte das pessoas que eu citei acima, não possuem um objetivo claro naquilo que estão fazendo. Lembro-me de um grande amigo meu, na adolescência. Ele queria tocar cavaquinho profissionalmente. O cara era muito chato (risos). A imagem que eu tenho dele era um maço de partituras e o cavaquinho nas mãos. Horas e horas, comendo, assistindo TV, com os amigos, sempre, o instrumento e as partituras. O resultado dessa obstinação é que hoje ele é um dos cavaquinhos mais requisitados nos estúdios, saraus, etc. O cara é tão bom que virou música:


Ter um objetivo é fundamental para formar uma carreira na música. Se você toca por tocar, certamente no futuro, terá um bom emprego e não estará mais envolvido com a música. Então o seu primeiro passo é estabelecer uma meta a ser alcançada. É a partir deste alvo que você irá traçar os seus passos para poder atingi-lo.

Falta de originalidade


Isso é um problema sério. Mas antes me deixe te fazer uma pergunta: Quantas bandas cover do Iron Maiden fazem o mesmo sucesso que o Iron Maiden? Reposta: nenhuma. Vamos melhorar a pergunta. Quantas bandas que soam igual ao Sepultura, fazem o mesmo sucesso que o Sepultura faz? Resposta: nenhuma. Só existe um Iron, um Sepultura, um Pink Floyd, um Legião, uma Madonna, e por aí vai.

Para ser relevante no mercado musical é preciso ser original, ter algo que caracterize seu som como único, uma identidade musical, aquela coisa mágica (e olha que eu nem acredito em mágia) que faz com que a gente saiba de quem é aquela música já nos primeiros acordes. O grande problema da maioria das bandas atuais é que você ouve 10 bandas, todas ótimas com músicos excelentes mas parece que você está ouvindo sempre a mesma banda, e o que é pior, parece que todos gravaram no mesmo estúdio e com os mesmos equipamentos. Me desculpe a sinceridade, mas assim você não vai chegar em lugar nenhum.

Mas como conseguir fazer algo novo? Conhecendo o que já está sendo feito! Saindo da caixinha. Aqui no Brasil apesar de todos nossos problemas existe uma série de eventos acontecendo. Grandes eventos, médios, mainstream, independentes, alternativos, online. Não há desculpa para a falta de cultura musical. Também é importante conhecer os nomes que deram origem a tudo o que está ai. Entender porque os Beatles são considerados a maior banda de todos os tempos. Para isso uma das primeiras coisas que devem cair por terra é o preconceito musical.

Por exemplo: recentemente aconteceu a Mostra Internacional de Rock Progressivo no Rio de Janeiro com a presença de Carl Palmer e do PFM (Premiata Forneria Marconi) entre outras e com ingressos à R$ 10,00 (dez reais). No lado Cristão tivemos o Rock no Vale em Arujá, SP, com artistas da nova geração da música cristã como: Simonami, Doutor Jupter, Militantes, Os Arrais, Crombie, Lorena Chaves, Resgate, Dominic Balli (USA) entre outros.

Ir a eventos assim abre a cabeça do músico em todos os sentidos. Novos ritmos, tendências, equipamentos, técnicas, etc. Essa enxurrada de informações sonoras vai moldando a maneira de compor e com o tempo você consegue criar uma identidade própria, com referências marcantes, mas sem imitar ninguém.

Por enquanto é isso. Lógico que há muito mais o que falar mas não quero me tornar extenso demais. Éu creio que é possível ser original e artístico. Sempre haverá algo que ainda não foi feito e se você não fizer alguém mais ousado certamente fará. Música é paixão e ousadia. O resto é técnica e teoria.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Lealdade de Jônatas Deveria Ser a Nossa

No culto do último domingo, 22 de fevereiro de 2015, no Ministério das Gerações (MDG), o pastor Thomas Gonçalves utilizou o texto de 1º Samuel 18.1-4, que narra o nascimento da amizade entre Jônatas, filho do Rei Saul e príncipe de Israel e David, pastor de ovelhas e futuro Rei de Israel. O texto citado diz o seguinte:
Depois dessa conversa de Davi com Saul, surgiu tão grande amizade entre Jônatas e Davi que Jônatas tornou-se o seu melhor amigo. Daquele dia em diante, Saul manteve Davi consigo e não o deixou voltar à casa de seu pai. E Jônatas fez um acordo de amizade com Davi, pois se tornara o melhor amigo de Davi. Jônatas tirou o manto que estava vestindo e deu-o a Davi, junto com sua túnica (armadura), e até sua espada, seu arco e seu cinturão.

A amizade entre Davi e Jônatas é calcada na lealdade que é uma qualidade formada pela fidelidade, dedicação e sinceridade, ou seja: toda lealdade é carregada de fidelidade mas nem toda fidelidade é baseada na lealdade. Jônatas demostra sua lealdade a Davi entregando-lhe bens pessoais muito importantes no contexto da história, a saber: A capa, a armadura (túnica em algumas traduções), a espada, o arco e o cinturão. Cada um destes elementos representa um tipo de entrega. 
  • A Capa - Todos utilizavam uma capa naqueles dias, que servia como indicativo da posição social e hierárquica de cada um. Mas há de se convir que a capa de um príncipe era bem diferente e superior (em qualidade) a de um pastor de ovelhas. Ao entregar sua capa a Davi, Jônatas está reconhecendo e se submetendo a realeza, chamado divino e autoridade de David.
  • A Armadura - Sua função é proteger seu usuário. Dando-a a Davi, Jônatas demonstra não apenas que confia em Davi ao desproteger-se mas que está mais interessado em protegê-lo. Jônatas sabe que garantindo a integridade de Davi este não permitirá que lhe aconteça nenhum mal.
  • A Espada - Por tratar-se de um artefato de ataque, ao abrir mão de sua arma pessoal, Jônatas está demonstrando a Davi que este não precisa temê-lo, e mais, ele coloca sua própria vida nas mãos de Davi.
  • O Arco - No contexto da época o arco tinha sua função mais voltada para a caça do que para a guerra. Ou seja, era com o arco que se obtinha o alimento, o sustento para o dia-a-dia. Com este ato, Jônatas afirma que dará o sustento necessário a Davi para que este exerça seu chamado.
  • O Cinto - Uma das funções do cinto era e é prender a roupa de modo que seu usuário não se embarace além de servir para sustentar a espada.  Ao entregar seu sinto Jônatas demonstra disposição para sustentar David e auxilia-lo em algum embaraço.
Esta lealdade demonstrada a Davi é a mesma lealdade exigida de nós a Cristo, a Sua Igreja e consequentemente a seus representantes nesta terra. Quando nos agregamos a uma comunidade devemos ser leais aos nossos líderes na mesma proporção em que Jônatas foi leal a Davi. Somente agindo desta forma é que daremos aos líderes as condições de seguir em frente pois os mesmos estarão seguros do suporte de um povo leal. A pergunta que fica no ar é: Será que somos assim? Será que entregamos tudo de nós a Deus, confiando que Ele cuidará de nós? Será que estamos realmente dispostos a reconhecer e nos submeter a autoridade de Deus? Será que confiamos na proteção do nosso Deus? Será que realmente deixamos Deus lutar por nós? Será que estamos dispostos a sustentar a obra de Deus nesta terra? Será que estamos prontos a defender o nome do nosso Deus para que ele não seja envergonhado e seus propósitos não sejam embaraçados pelo nosso inimigo comum? Ou será que criamos nossos próprios monstros para termos do que fugir e nos esconder tirando a responsabilidade da obra de Deus das nossas mãos?

Será?!


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

E você o que está fazendo sentado atrás desta mesa?

Na década de oitenta quando ouvi pela primeira vez a música Nada, da banda paulistana Olho Seco, nosso único objetivo era contestar mas sem fazer muito para mudar as coisas de fato. Passados 30 anos o mundo só piorou, a fome e as injustiças sociais continuam engolindo as pessoas com um apetite insaciável e a pergunta que eu faço é: "E o que nós estamos fazendo sentados atrás de nossas mesas?"


Ao estudarmos a história da igreja vemos que havia uma preocupação constante com os pobres e necessitados. Um dos pais da Igreja, Hermas de Roma, em um de seus escritos ressalta: "Se guardas estas coisas, este jejum será perfeito para ti. E assim farás. Tendo cumprido o que está escrito, no dia em que jejues não provarás senão pão e água; e contarás o custo do que terias gastado na comida aquele dia, e o darás a uma viúva ou a um órfão, ou a um que tenha necessidade, e assim porás em humildade tua alma, para que o que recebeu de tua humildade possa satisfazer sua própria alma, e possa orar por ti ao Senhor." Fiquei maravilhado com isso e ao mesmo tempo entristecido ao perceber o quanto estamos longe de um cristianismo que tenha o servir sempre em primeiro lugar. Pois de que adianta servimos a Deus se não servimos ao próximo?

Já somos cristãos razoáveis dentro de nossas igrejas institucionais; entoamos louvores, participamos da liturgia, ouvimos a palavra, ofertamos e procuramos viver uma vida digna. Tudo isso é bom e deve ser mantido e aprimorado mas o que precisamos ainda mais é sermos cristãos excelentes fora das igrejas. Começando em nossos lares, construindo uma base relacional familiar firme e agradável que possa prover para os da casa uma satisfação e disposição para o próximo. Feito isso já podemos partir para os nossos vizinhos. Quantos de nós sabemos ao menos os nomes dos nossos vizinhos? Quantas vezes ficamos sabendo de um morador próximo que perdeu um ente querido, um colega de trabalho que está doente, de um membro da igreja que perdeu o emprego e não fazemos nada. Nem um telefonema, uma visita para saber como a pessoa está ou se precisa de algo.

Não se trata de dar esmolas. As vezes é preciso dar a esmola, mas na maioria das vezes basta tratar com dignidade, com igualdade, com oportunidade. Não para aumentar a membresia desta ou daquela comunidade religiosa, mas para fazer o bem e trazer o Reino do Bem até estas pessoas. Somente sendo cidadãos relevantes a nossa sociedade praticando o amor, a caridade, o repartir do pão, a doação sem segundas intenções, preocupando-nos com o bem estar de todos independente de cor, raça, credo, orientação sexual, passado ou presente é que começaremos a deixar de sermos vistos como crentes inconvenientes. Dizemos que amamos a Deus mas não demostramos este amor amando o mundo (pessoas) que Ele amou a ponto de entregar seu único filho em sacrifício.

Precisamos agir. E agir rápido. Antes que tudo que reste de nós seja uma vaga lembrança de que um dia houve na terra, um povo que conhecia o caminho mas que era egoísta demais a ponto de dividi-lo com alguém. Que Deus nos livre desta sina.