terça-feira, 10 de outubro de 2017

Cuidado! Vidro Quebrado!

Será que estamos, todos, nos tornando animais selvagens e insensíveis?
Outro dia, desses, quebrou um pote de vidro aqui em casa. Imediatamente pegamos uma embalagem de leite longa vida para colocar os cacos dentro e depois selar com fita adesiva. Fazemos para que, no descarte, ninguém se corte ao recolher o lixo. Aprendi isto com a minha madrinha, a dona Niva, que já é falecida. Sempre que havia algum perfuro cortante para ir ao lixo, era tudo cuidadosamente embalado, reforçado com fita crepe e ainda havia um aviso escrito com aquele pinceis atômicos: "Vidro Quebrado". Era uma preocupação para que o lixeiro não se machucasse ao recolher o nosso lixo. Uma preocupação com a segurança e a integridade de alguém que não conhecíamos. Cuidar do próximo! O que houve com a gente?

Confesso que não sei explicar o porque de perdermos a empatia com as pessoas. Parece que vivemos um tempo onde não temos tempo para nos preocuparmos com os outros em nosso entorno. Nossos vizinhos ficam doentes e se curam sem receber uma única visita de nossa parte. Cruzamos todos os dias com os necessitados e passamos ao largo como se eles não existissem. Coisificamos seres humanos e os vemos como se fossem apenas parte da paisagem. Assistimos, diariamente, no jornal do almoço, histórias de injustiça, enquanto engolimos nossa comida ligeira pra não perder o horário do ponto. Conhecemos, apenas de vista, a mulher que apanha do marido, o cara que teve tudo roubado, a criança que foi violada, o mendigo que dorme na marquise da esquina e que agora se chama morador de rua, como se esta fosse a sua melhor opção.

Com a mesma rapidez que nos chocamos com as manchetes, esquecemos os personagens. Esquecemos a moça que serviu de alimento de cães, os pais surpreendidos pelo ódio da filha, e menina lançada pela janela num ataque de fúria assim como nos esqueceremos das crianças queimadas. Fomos treinados para consumir, descartar e desejar a próxima novidade. E como produtos baratos vamos vivendo nossa vidinha estúpida, até o próximo pagamento. Somos religiosos e não deixamos de dar a oferta, mas não ofertamos o nosso melhor para aqueles que nos rodeiam. Assistimos todas as séries mas não assistimos os necessitados. Sempre em busca da selfie, do like e de carinhas felizes, mesmo que sejam apenas bytes e bits.

Será que chegamos ao fim?

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